quarta-feira, 27 de abril de 2011

as tainha

as tainhas que outrora miravam
o morro da concha pra subir a serra afora
e se espraiar pelos riachos,
hoje em dia se perguntam,
meu caminho, por onde faço?

agora aqui do lado,
só essa boca de vala,
mais pra cima a coisa tá feia,
a sujeira, nem se fala!

como é que eu chego lá,
 no lugar daonde eu vim?
que meu avôzinho contava
tão aprazível era assim.

o riacho no pé da serra,
hoje em volta é só pasto.
a água toda barrenta,
e o leito? assoreado.

por vezes até penso,
antes ainda ser pescado,
que subir esse rio todo,
só pra vê-lo devastado.

mas é que o tal do bicho homem
sem razão ou vergonha alguma
resolveu dividir entre ele
aquela terra que era uma

aí na fomiagem
desmata as beiras do rio
os morros, tudo pastagem
e as areia aonde ficam?

quando chove as voçorocas
choram aquela terra toda
enchendo o fundo dos rios
alagando as várzeas choca

pq no pasto envenenado
não dá râ não dá preá
minha única compania
são as vacas com quem não sei falar.

uma boa vaca devia ser
a mãe do dono desse pasto
que não ensinou pro seu bebê
pra não bulir com o arrumado.

agora essa desordem toda
rios que viraram vala
e as tainhas na entrada do rio
se perguntam desorientadas

praonde eu vou
pra qual lado eu sigo
não tô muito na pilha
desse rio poluído

praonde eu vou
pra qual lado eu sigo
quem foi o vacilão
que fez isso comigo?

e eu ali remando tranquilo
nas águas sujas da prainha
ouço e finjo que não é comigo
a reclamação das tainhas.

o foda é se fingir de surdo
quando tô muito mais que ligado
que quem tá fudendo o mundo
são meus irmãos, fi de macaco.

como é que pode um bicho só
tanto estrago aí causar
era caso da natureza
também vez por todas adotar
essa tal democracia
só pra ver bicho votar.

vai ser macaco, anta cutia
peixe do rio, peixe do mar
os passarinho tudo unido
cantando só pra tripudiar

o perdedor da assembléia
isolado no canto, todo chorão
o homem cheio das idéias
ia amargar pra sempre a solidão

e o macaquinho zombeteiro
não ia perder a ocasião
agora tu casa com o dinheiro
meu priminho vacilão!

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