domingo, 18 de setembro de 2011

"A valsa torta do PT-ES" ou "O deslumbre dos caboclos"

É foda olhar pra trás e ver o que você construiu, pensando num fim, tomou um rumo que você despreza.
Não que eu tenha construído um ponto final em qualquer coisa, mas as reticências deixadas pra trás podem ter (e tiveram) várias interpretações. Inclusive práticas.

Lembro até hoje de discussões que pude acompanhar na executiva do pt, quando era secretário estadual de juventude do partido (e tenho tudo anotado!):
Compor ou não compor o governo PH? Lançar candidatura própria ou não ao governo do ES? Confiar em quem não confiava na gente e e dispor a oferecer a credibilidade que tínhamos acabado de conquistar - numa sequência a presidência, quatro mandatos e cidades importantes no Estado - a um projeto que, desde o início frisávamos, não era o nosso.
Pegos de calças arriadas, tendo que zelar em território hostil minado de desconfianças (inclusive entre nós mesmos) pelo patrimônio recém conquistado, demos um passo corajoso à frente e topamos fazer parte de um governo que não era o nosso, em nome da reconstrução do ES.

Massa! Estávamos achincalhados. O espírito santo ocupava espaço nas manchetes nacionais com o presidente da assembléia legislativa cassado, o governo do PSDB atolado em corrupção, crime organizado, etc... Pusemos a cara a  tapa e fechamos nesse projetinho mínimo de saneamento, a despeito da desconfiança mútua...
Tínhamos muito trabalho pela frente, e eles também. Reconstituíram a "credibiliade" do estado. A despeito de um juiz assassinado, da mídia comprada, de temerários incentivos fiscais à grandes projetos poluidores, no clássico toma lá dá cá (são eles os grandes doadores das campanhas do ES)...
Enquanto aprendíamos a lidar com as consequências de um governo federal nosso, enquanto (re)aprendíamos a governar a capital, eles mais uma vez se entocavam nas locas do estado.
E se articulavam, na construção de um "novo espírito santo" com aqueles que, outro dia mesmo, chamávamos de "inimigos de classe".

E gestaram seu projeto. Que foi parido, covardemente, fora de qualquer espaço político passível de influência de quem quer que se interessasse. Então, do alto da torre do espírito santo em ação, desce o urubu do mau agouro, com nome e tudo. ES 2025.
Numa reedição tacanha, na parte trágica da repetição da história, relegamos à mesma patotinha de sempre a discussão sobre os rumos que o Estado tomava.
A findes sai de cena. E o consórcio da meia dúzia de famílias que sempre mandou no Estado - a patotinha do café, os pós yuppies do comércio exterior, o jornalismo vendido de sempre, sob a batuta do Saruman capixaba (Dr. Artur Gerhard - articulador do ES em Ação e dono dos fornos da mordor capixaba) contratam sua matilha de cães de guarda. Os mesmos sabujos velhos de sempre, Sérgio Aboudib, Élcio Álvares, com seus filhotinhos crescidos. A máfia do meio ambiente se instala - cepemar, cta. A cereja no bolo das falácias.
E tudo isso sob a proteção criminosa do bom e velho judiciário capixaba - sempre repartido entre clás de contadores do vil metal, cujos patriarcas engordam às custas do lobby corrupto que alimentam a banha de suas panças. Corrupto até a alma, jamais vou perder a oportunidade de relembrar o presidente do tribunal de justiça do ES, cassado por corrupção. Aposentadoria compulsória nele, 20000 de salário pra ir dormir de pijama e pantufa.

(E todos fica chocado. aham cláudia, sentá lá. ninguém sabia... rs)

E sob pressão topamos os caras.
Afinal, precisávamos de recursos para as nossas administrações. Afinal, temíamos os impactos do mensalão sobre nosso "capital político". Afinal, gerir o público já era por si só, o maior trampo: Muitos cargos a serem   ocupados, a serem distribuídos. Eram tantos que sobrava até pro PSOL.
Sob o falacioso argumento da luta contra o crime organizado (cujos desdobramentos provam que nem demandou tanto esforço assim), cerramos fileiras com os que enquanto nos acariciavam o cocuruto e davam migalhas, punha seu braço direito à serviço da mesma elite que sempre combatíamos.
E dançavamos essa valsa torta, descompassada, desritmada. Por oito anos nos entretemos com esses acordes e, no final, dançávamos até direitinho.
Como uma centopéia alinhamos cada pézinho nosso à essa ópera bufa. Afinal de contas, éramos como eles: Agentes públicos à serviço do público. Funcionários bem empregados, que participavam de eventos tão solenes quanto eles. Que tomávamos decisões tão importantes quanto às deles. Que compravam carros iguais, roupas iguais, que mandavam os filhos para as mesmas escolas... Ora, no que nos diferíamos? Quem podia ser contra reconstruir o espírito santo?

E nos tornamos amigos daqueles que, na chantagem, nos botaram ao seu lado. E acabou a música. E começou outra. E lá estávamos, com um novo par. Mais do nosso tamanho, até mais amigo nosso. Mais envolvente, mais ritmado. Tão entretido que estávamos, não vimos a mudança dos músicos. Sob a orquestra do ES em Ação, feito marionetes da elite da elite empresarial capixaba, desenhamos agora no salão os passos do novo desenvolvimentismo capixaba. Como uma boa dançarina, nos deixamos levar graciosamente nesse tango tão apaixonante que mal percebemos o que acontece à nossa volta. Inebriados pelos aplausos, aprumamos nossos passos.
Dançamos hipnotizados essa dança que pisa forte na terra.
Importamos denovo aquelas plantas industriais que ninguém mais quer do equador pra cima. Importamos patrões e consórcios poluidores que vendemos como progresso pros que confiaram nagente. Sacrificamos a saúde da nossa terra e da nossa gente em troca de impostos que sequer recolhemos, de jornadas de trabalho com as quais não concordamos, de novas cidades inchadas com todas aquelas consequências que já cansamos de atribuir aos governos autoritários da época da ditadura.
Mas tudo bem, seguimos cumprindo o nosso papel de sempre: trocando ouro por miçangas, sacrificando recursos naturiais cujo valor só tende a crescer por artigos que competimos com outros mortos de fome pra  fornecer a preços módicos lá pro norte. Que vai vender de volta pragente bem mais caro.

Essa história é velha.

Novos são os caboclos, recém chegados da roça, macaqueando os trejeitos da boa e velha elite, cafetina da nossa terra, da nossa gente.
Só fazendo valer as palavras do sábio que disse que sempre se podia contratar (bem barato) metade dos pobres para dar um jeito na outra metade. Tamo aí, de vice de um governo que não manda, a serviço de um projeto que, desde o início sabíamos, não é o nosso. Mas cada vez mais nos parecemos. Parecidos que somos, eles não devem ser tão ruins assim. Usemos pois as réguas deles para medir o quão feliz o capixaba pode ser.
Afinal de contas, não somos militantes, não somos políticos. Somos gestores. Da (in)felicidade alheia.

amém!


2 comentários:

alex disse...

pensei comentar, mas... não há o que. Bom texto, bom desabafo, para infelicidade (quase) geral.

Danny Borgesk disse...

Super texto, seu João!